sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

CRIATIVIDADE


A criatividade é uma qualificação e não apenas um talento inato. Apesar de algumas pessoas serem mais criativas do que outras, todos podemos tornar-nos pensadores mais criativos se estivermos dispostos a praticar; é uma competência que se conquista com algum treino. E é cada vez mais uma qualificação essencial em qualquer currículo. Já não é suficiente ter algumas pessoas criativas numa organização; é preciso que a própria organização se torne criativa, graças ao conjunto de colaboradores com estas características.

Diferentes definições de criatividade:

“Criatividade é pegar num tema, numa pergunta, numa noção ou numa ideia, fazê-la circular, dispersá-la, associá-la, virá-la, pegar-lhe ao contrário, voar com ela, o mais longe possível fora da vista, sem nunca voltar. Mas, de repente, ei-la que reaparece mudada, nova e essencial, como nunca esteve antes.” John Kao

“Criatividade é a característica de alguém que regularmente resolve problemas ou define novas questões, num domínio específico, de uma forma que inicialmente é considerada nova, mas que depois é aceite num dado contexto cultural.” Howard Gardner

“Criatividade é mudança inédita do ponto de vista, em relação a um determinado quadro cognitivo, dentro do qual tudo o que se sabe sobre ele não é capaz de resolver um problema que se encontra, também, no seu interior.”

“Criatividade é o processo que resulta num produto novo que é aceite como sustentável, útil ou satisfatório, por um número significativo de pessoas em algum ponto no tempo.” Morris Stein

“Criatividade é uma combinação de flexibilidade, originalidade e sensibilidade das ideias que permitem ao pensador romper com as habituais sequências de pensamento, iniciando diferentes e produtivas sequências, cujo resultado origina satisfação para ele e talvez para os outros.” Powell

“Criatividade é uma clara representação, na mente, de um problema, seguindo linhas novas ou não convencionais, da qual resulta a produção de uma ideia, conceito, noção ou estrutura.” Edward De Bono

“Criatividade é uma forma de solucionar problemas mediante intuições ou combinação de ideias, provenientes de campos muito diferentes de conhecimentos.” Gagné

“Criatividade é a actividade que faz surgir um novo produto de relações que procedem, por um lado, da individualidade da pessoa e, por outro, das matérias, acontecimentos, pessoas ou circunstâncias da sua vida.” Carl Rogers

Características predominantes das pessoas criativas:

§ Fluência e flexibilidade de ideias;
§ Pensamento original e inovador;
§ Alta sensibilidade;
§ Fantasia e imaginação;
§ Inconformismo;
§ Inquietação mental;
§ Independência de julgamentos;
§ Abertura a novas experiências;
§ Uso frequente de analogias e combinações incomuns;
§ Ideias elaboradas e enriquecidas;
§ Preferência por situações de risco;
§ Alta motivação e curiosidade;
§ Elevado senso de humor;
§ Impulsividade e espontaneidade;
§ Confiança em si mesmo ou auto-controlo positivo;
§ Sentido de destino criativo (atitude de se ser responsável em contribuir para que algo na humanidade mude)

Carl Rogers, um humanista que vê a criatividade como a necessidade e tendência que o ser humano tem para se auto-realizar, vai mais longe e afirma que as pessoas criativas possuem ainda:
§ Tolerância às ambiguidades;
§ Ausência de rigidez nos comportamentos e pensamentos;
§ Confiança nos seus próprios sentimentos e percepções;
§ Necessidade de procurar a auto-realização, desfrutando o momento presente e adaptando-se ao meio;
Para este pensador, a criatividade está intimamente ligada à própria saúde mental do indivíduo. O seu desenvolvimento abre-lhe as portas de outras dimensões; permite-lhe uma mais completa expressão da sua individualidade.

As cinco etapas do processo criativo:

1-Apreensão
- o indivíduo tem a percepção de que tem um problema para resolver, sente-se perturbado por algo que quer solucionado.

2-Preparação - o indivíduo faz as suas próprias investigações sobre o problema que o afecta, lendo, anotando, discutindo, coleccionando factos, consultando outros dados, explorando tudo o que está ao seu alcance.

3-Incubação - surge como a consequência directa da fase de preparação. À medida que vai lendo, investigando, consultando, o indivíduo vai sendo confrontado com uma torrente de dados novos que vão sendo elaborados ao nível do seu inconsciente. Pode parecer que o indivíduo não está a fazer absolutamente nada para resolver o seu problema. A fase da incubação tem uma duração altamente variável e pode até ser desanimadora para quem a vive. Mas dá sempre os seus resultados.

4-Iluminação - O clímax ou “aha” do processo criativo surge espontaneamente e sem que o indivíduo possa prever a sua chegada. A ideia iluminadora pode surgir num momento de relaxamento, durante o sono ou durante a realização de uma qualquer tarefa.
A forma como o “aha” se traduz varia de situação para situação e de indivíduo para indivíduo, mas mostra que em termos internos o indivíduo tinha como preocupação a resolução de um determinado problema.

5-Verificação - Nesta fase, conclui-se o processo criativo. É o momento de pôr em prática todas as ideias novas, as diferentes soluções encontradas. Se nas etapas anteriores o indivíduo criativo/ criador estava em contacto consigo mesmo, agora passa a estar em contacto com o exterior. É o momento de verificar o impacto da sua obra junto dos outros; de receber a sua crítica, elogio e avaliação.
Muitas vezes, e graças ao feedback recebido, o criador sente-se impelido a alterar certos aspectos, tentando assim conseguir chegar a uma solução ou produto mais elaborado e eficaz.

Principais barreiras à criatividade:

DENTRO DO INDIVÍDUO:

Ao nível da percepção:
Vermos apenas o que queremos ver impede-nos de ver o todo. Ver um problema de forma isolada permite-nos apenas construir um cenário parcial e redutor. Ter uma definição estrita, pessoal e subjectiva do problema corta-nos as asas.

Ao nível da percepção, são altamente bloqueadores da criatividade individual os seguintes comportamentos:
- ver apenas o que se quer ver;
- incapacidade de se interrogar para além do evidente;
- não acreditar na sua criatividade;
- manter uma estreiteza de vistas;
- dificuldade de utilizar todos os sentidos;
- apresentação e aceitação prematura de “soluções”, que dificilmente acabam por sê-lo, depois, na prática;

Obstáculos culturais vigentes:
Ao contrário do que geralmente se verifica, o julgamento e as críticas devem ser percebidos positivamente, ou seja de forma construtiva e como motores de desenvolvimento, alavancas de transformação. Ter imaginação ou humor não é uma perda de tempo. A tradição é um valor seguro, mas não esgota a panóplia de soluções possíveis. Os tabus não devem ser vistos como sagrados. E os dogmas não devem ser aceites de forma cega.
Ao nível cultural, os principais bloqueios à criatividade individual são:

- Tendência para o conformismo, por desejo de pertença a um grupo;
- Crítica imediata das novas ideias;
- Imaginação e humor considerados como perca de tempo;
- Tendência para radicalizar, isto é, apenas aceitar o “tudo ou nada”;
- Excesso de dependência e confiança cega nas estatísticas e experiências passadas;
- Excesso de racionalidade e de pensamento lógico.

Obstáculos ao nível do ambiente em que os membros estão inseridos:
§ Por exemplo, ter uma actividade rotineira, repetitiva e estupidificante, que evita/impede de pensar.
§ Trabalhar num clima de falta de cooperação e de confiança entre pares ou colegas.
§ Estar sob as ordens de dirigentes que têm resposta para tudo e só valorizam as suas próprias ideias.
§ Ter falta de suporte e de meios para concretizar as ideias.
§ Estar inserido num grupo de pessoas com estatutos, graus de autonomia e poder, bem como idades muito diferentes.

Obstáculos emocionais mais frequentes:
§ Exprimir ideias “significa” correr riscos , expor-se às críticas e ao ridículo.
§ O medo de ser julgado, de cometer erros e necessidade de segurança são factores paralisantes para certos indivíduos.
§ A inclinação natural para a crítica negativa ou para mostrar dominação de certas hierarquias também tolhe a criatividade dos seus colaboradores.
§ Ser incapaz de se relaxar e de "cobrir" a ideia.
§ Ter pressa de ter êxito.
§ Ser inseguro, tímido, ter baixa auto-estima.
§ Ter convicções e auto-crenças limitadoras.

Principais medos do indivíduo enquanto inimigos mortais da criatividade:
§ medo do risco e de parecer ridículo;
§ medo de ser julgado;
§ medo de correr o risco de ser pioneiro, e de estar em minoria;
§ medo de instabilidade e total necessidade de segurança;
§ tendência à crítica negativa;
§ ser incapaz de se descontrair;
§ pressa de ter êxito;
§ falta de capacidade de maturação das ideias.

DENTRO DO GRUPO:

Falta de Flexibilidade:
A preocupação com os resultados leva a que, em algumas organizações, se considere quase como subversivo qualquer método ou processo de trabalho diferente do inicialmente previsto ou proposto. A diversos níveis se ouvem, por vezes, afirmações ou posições que desligam a actividade do "fazer" das actividades de "pensar" e/ou "criar".
Assim sendo, são desaconselhadas todas as intervenções do tipo: "Você está aqui para fazer e produzir e não para pensar!"
Igualmente perniciosas são todas as atitudes que induzam os colaboradores a adoptar a seguinte posição: "Eu sou pago para fazer e não para pensar”, já que estas constituem enormes barreiras ao pensamento e à criatividade.

Execução e Criação:
Uma das razões mais comummente apresentadas para justificar a falta de inovação nas empresas é o envolvimento em actividades executivas em detrimento de actividades de natureza mais criativa.
É pressuposto que, quanto mais elevado é o nível hierárquico, menor envolvimento em tarefas rotineiras e administrativas mas, na maior parte dos casos não é isto que sucede e, inúmeras vezes, os gestores funcionam a um nível eminentemente operacional ficando a componente estratégica relegada para segundo plano.

Falta de comunicação interna
A comunicação numa empresa está associada ao grau de cooperação existente entre os seus membros. Quando existe falta de comunicação, normalmente isso significa um clima de trabalho onde predominam a insegurança, a desconfiança e desmotivação e o medo de errar; como tal, a falta de cooperação saudável entre os vários elementos ou até mesmo departamentos.
Quantas ideias surgidas num determinado grupo ou sector da empresa não poderiam vir a beneficiar outras áreas se fossem divulgadas?
As competições destrutivas estão muitas vezes na origem da falta de cooperação entre as equipas. Procurar compreender as principais barreiras à criatividade e inovação é um bom ponto de partida para gerar um espírito de flexibilidade que ajude a eliminar essas barreiras e a construir um ambiente facilitador à expansão de processos criativos.

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